CIMENTO, BETÃO E CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

Reabilitação Urbana

Roteiro para a Descarbonização de Portugal. Uma perspectiva na construção e reabilitação de edifícios.

“O Roteiro para a Descarbonização de Portugal em 2050, resultante do Acordo de Paris, tem como objetivo alcançar a neutralidade carbónica da economia portuguesa em 2050. Na União Europeia, o sector de construção civil é responsável por cerca de 30% do consumo global de energia e das emissões associadas. Portugal está implicado nesta dinâmica a qual, além da profunda descarbonização da economia, tem um importante efeito de Geração-de-Valor. Os edifícios em betão, quando comparados com o edificado construído com outros materiais de construção, podem alcançar consideráveis poupanças de energia durante o seu ciclo de vida, devido à sua elevada inércia térmica que garante uma temperatura interior mais estável mesmo quando no exterior ocorrem oscilações de temperatura. A elevada inércia térmica do betão é um aspeto essencial a considerar para a construção/reabilitação de edifícios para os quais o objetivo é uma elevada performance energética.” (FERNANDES et al., 2019)

A reabilitação com cimento, um investimento seguro e responsável

“A reabilitação do edificado é hoje em dia encarada de forma, por vezes, aligeirada desvalorizando valores tão importantes como a segurança, nomeadamente a segurança estrutural. A tendência para a redução de custos e minimização das intervenções conduz a que se dê primazia à reabilitação com impacto visual em detrimento dos aspetos “mais longe da vista”. De facto o contributo de um revestimento final para o embelezamento da construção, ou a actualização funcional a nível estético, assume por vezes impactos de grande percepção de valor por quem compra, subentendendo intervenções mais profundas que em muitas situações e, pelos motivos acima mencionados, não chegam a ocorrer.  

Hoje, transacionam-se frações que sofreram intervenções lindíssimas ao nível do melhoramento arquitectónico e que continuam a não cumprir requisitos mínimos de segurança, por exemplo a nível sísmico, até porque à data da construção original os regulamentos que asseguram o cumprimento desses requisitos ainda não existiam. O certo é que grande parte desses edifícios, mesmo após estas intervenções, continuam a nem sequer ser alvo de análise dessa verificação da resistência ao sismo, num território em que, como todos sabemos, se localiza em zona iminentemente sísmica. Mais, muitas destas intervenções e, em prol de uma melhor reorganização do espaço interior, induzem à eliminação de elementos estruturais fundamentais, como sejam paredes e divisórias, sem se acautelarem devidamente as condições de estabilidade estrutural. 

Assim há que simplificar a burocracia inerente a este tipo de obras, mas não a qualidade das intervenções, tomada à letra no seu sentido mais vasto e completo. Efectivamente há que assegurar que o investimento real das famílias nestas “novas” habitações não seja logrado e que a segurança fique garantida. De facto investidores de maior dimensão não descuram este aspecto e não há motivo para que os pequenos investidores não sejam protegidos legalmente, uma vez que não têm conhecimentos técnicos que lhes permita verificar tais requisitos, comprarão “o que brilha ao olho”.

O cimento está presente na reabilitação de forma generalizada, sobretudo em volumes importantes nos revestimentos e acabamentos, estando incorporado numa enorme panóplia de materiais; rebocos, microcimentos, argamassas e pavimentos, mas o seu contributo mais nobre é de facto o respeitante ao zelo pelo segurança das edificações e dos seus ocupantes, nomeadamente no reforço estrutural e na resistência ao sismo. De facto inúmeras soluções simples e económicas são possíveis com recurso a betões, microbetões e argamassas de reforço, desenhadas para serem compatíveis com construções antigas, desde logo por permitirem consolidação de elementos estruturais chave para a estabilidade, como paredes-mestras, divisórias e outros elementos de rigidez estrutural, muitas vezes associados e em sintonia, com outros materias usados na própria construção original, como peças estruturais em madeira ou noutros materiais.

Assim temos os meios, temos o conhecimento, só temos que assegurar que, com cimento ou não, a segurança não fique de fora da reabilitação!”

Luís Fernandes
Presidente da ATIC – Associação Técnica da Indústria de Cimento
in Público – Imobiliário – 29.06.2016